RIO - Após o sucesso do trio Pearls Negras, do Vidigal, chegou a vez de cinco meninas da Zona Norte, da região de Manguinhos, chamarem a atenção, na web, com um rap feminino renovado pelas batidas da cada vez mais dominante bass music. O grupo Ladies Gang lançou, nesta semana, seu primeiro single, “Ladies”, que já tem quase 3 mil plays no Soundcloud, com produção de Felipe Benoliel, o Bluntzilla, do Apavoramento. A faixa é também o primeiro lançamento do selo Apavoro Brutal, resultado da união de duas equipes fortes da cena rap do Rio, a Brutal Crew, que há dez anos promove a Batalha do Real, nos Arcos da Lapa, e lançou grandes nomes do setor, e o Apavoramento Sound System, coletivo conhecido por fazer links com a periferia do Rio.
Além da Ladies Gang, o novo selo está cuidando também do próximo disco do rapper Marcão Baixada, que já foi tema aqui da Trans e que é uma das promessas cariocas na cena do hip-hop. O álbum se chamará “Geração 90”, a mesma do músico. Outro lançamento será o disco do próprio Aori, da Batalha do Real, “Anaga”, que chega ao público no dia 15 de janeiro.
— Assim como a Ladies Gang tem essa relação com Manguinhos, o Marcão traz a Baixada Fluminense no nome, tem essa carga genética de representar o lugar de onde vem, sendo, ao mesmo tempo, globalizado e universal — conta Aori. — Isso é importante neste momento em que o rap passa por uma crise de identidade, com festas como Nigga High as Shit e Hey Nngga, da Zona Sul, que se apropriam da estética do movimento cultural, mas não colocam MCs e DJs negros na escalação. Lançar artistas como Ladies Gang é mostrar um rap de protesto, sem preconceito, que não é só festa e badalação, mas algo verdadeiro. O rap feminino é muito forte hoje, com nomes como Flora Mattos, Karol Conká e Negra Lou, que estão na linha de frente do rap brasileiro.
As meninas, que se conheceram na região, promovem, todas as segundas-feiras, a Roda Cultural de Manguinhos, com freestyle de rap, além do Pronto, Falei, evento que reúne workshops de grafite, tranças black, MCs e DJs, com entrada franca, e tem a próxima edição marcada para 10 de janeiro, na Biblioteca Parque de Manguinhos. A princípio, elas atuavam apenas como um grupo de dança de hip-hop, mas foram incentivadas a cantar por DJs como Bluntzilla, e estrearam, no palco, abrindo o show do De La Soul no Circo Voador, em julho.
— As nossas letras tratam do cotidiano de quem vive na favela, das nossas saídas, do que é ser uma lady, da desigualdade social e do preconceito com as mulheres no rap. Ainda é muito complicado fazer rap sendo mulher. Muitos acreditam que, por sermos bonitas, subimos ao palco apenas para mostrar a bunda, mas não param pra ouvir o que temos a dizer — explica a rapper Patrícia Nogueira, a Bandity.
Em tempos de lançamentos musicais na web, as meninas ainda pretendem liberar outros singles antes de pensar em um disco. A maior divulgação acontece, mesmo, em um grupo no Whatsapp, só para meninas interessadas em hip-hop.
— Às vezes, é difícil fazer música dançante quando se encaram tantos problemas sociais, mas nós conseguimos — defende Ana Paula Lanor, a Dona, outra integrante do Ladies Gang, que ainda é formado por Kim Glimberg (Cassia Dos Anjos), Slain (Brenda Rubia) e Tetiz (Stephanie Gonçalves), todas meninas que atuam como líderes comunitárias em Manguinhos.
* Fabiano Moreira escreve na página Transcultura, publicada às sextas-feiras no Segundo Caderno
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